domingo, 14 de julho de 2013

Assunção Esteves e a notícia do Tugaleaks – A emoção travestida de razão

Surgiu hoje (14/07/2013) na página do Facebook da “Tugaleaks” um artigo (http://www.tugaleaks.com/assuncao-esteves.html) sobre a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, que demonstra o quanto as emoções podem perturbar a racionalidade que se exige a quem escreve para um grande número de leitores.
O artigo é escrito num tom completamente acusatório e tenho a certeza que quem o escreveu não parou um pouco para pensar, deixando-se entregar totalmente numa torrente de emoções.
No post do Facebook começa-se por dizer que a dita senhora “não é uma santa”. Eu pergunto: Quem é “santo”? Quem nunca errou? Certamente não há nem nunca houve ninguém cuja vida se pautasse por uma total observância dos mais elevados princípios morais… é tão óbvio que qualquer pessoa, pensando um pouco, chega a esta conclusão.
No artigo refere-se o facto de a senhora ter uma reforma devida ao período de 10 anos de trabalho no tribunal constitucional. Também se refere que recebe um ordenado astronómico. Isto é completamente verdade! Não existe nenhuma razão que justifique o facto de se pagarem reformas ao fim de tão poucos anos de trabalho. Também é revoltante ver pessoas ganharem tanto dinheiro à custa de todos nós. Mas eu pergunto: Que culpa é que a senhora tem de a lei ser como é? É a única nestas circunstâncias? Se nos oferecessem as mesmas condições, algum de nós recusaria?
Também se afirma que ela teve atropelou uma senhora numa passadeira. Mas isto não pode acontecer a qualquer pessoa? Até ao mais bem-intencionado dos seres?
Não estou a defender a Assunção Esteves pois para mim é tão boa como qualquer um dos restantes políticos… Acho até que esteve muito mal no episódio em que tratou os manifestantes que estavam na AR com uma ira vergonhosa para alguém que ocupa tal cargo. Porém, não consigo concordar com as pessoas que escrevem artigos cujo objetivo parece ser apenas exteriorizar a sua raiva em relação a alguém.
A indignação é algo muito positivo e é saudável que as pessoas a demonstrem por via da palavra, das manifestações e outros atos. Já o ódio não leva a lado nenhum. Quem odeia prova não ser melhor do que o destinatário do seu ódio.
Por isso eu lanço um repto: indignemo-nos, revoltemo-nos contra o atual sistema, deitemo-lo abaixo, restauremos a nossa autonomia e dignidade enquanto nação e criemos um Portugal melhor. Porém, não o façamos com base em rancores pessoais senão não faremos mais do que derrubar um sistema para implementar outro com pessoas diferentes mas igual em tudo o resto.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

A impostura das marcas

Recordo-me das aulas de marketing que tive ao longo do meu percurso académico… Uma das matérias que mais entusiasmavam os pupilos eram as marcas. Com efeito, elas dominam grande parte das nossas vidas: estão na internet, na rádio, na TV, nos jornais e agora até nos telemóveis e tablets. Têm a pretensão de ser ubíquas, uma presença constante na vida dos consumidores. Porém, nem sempre foi assim já que as marcas tiveram um nascimento bem mais modesto, vivendo durante muitos séculos sob a forma de pregões, semelhantes aos que podemos ouvir ainda hoje nas feiras e nas lotas.
Uma marca pode ser definida como um símbolo (visual ou auditivo) utilizado para identificar um empresa/produto e distingui-la(lo) das(os) demais. Contudo, a necessidade de distinção tornou-se numa psicose esquizofrénica em que a realidade se mescla com a ficção. A loucura tomou conta das marcas e contaminou a população!
“Loucura!?” – pode pensar o leitor. Será assim tão grave? Sim! Senão vejamos: muitas marcas prometem o que não podem nem nunca poderão cumprir. Vendem ilusões, enganam as pessoas e fazem-nas correr atrás de uma ideia de felicidade instantânea que nunca poderão atingir. Vejamos alguns exemplos:
Alguns refrigerantes prometem a felicidade a todos os que a consumirem. Mas, afinal, que raio é que uma bebida tem a ver com felicidade!? Há alguém que consiga vislumbrar uma ligação? No mínimo os consumidores frequentes de bebidas gaseificadas devem é rezar para não ganharem uma gastrite ou ulceras no estomago. Portanto, a ligação é absurda e enganadora.
Várias marcas de champôs vendem a ilusão da beleza. A ideia é a seguinte: lave o seu cabelo com o champô x, y ou z e será tão bonita quanto a modelo deste anúncio. Outro disparate: o champô da marca x não a deixa mais bonita do que o da marca y. A única função que esse produto tem é lavar o cabelo, tirar a sujidade. Não pode fazer mais do que isso, mesmo que unte o seu corpo todo de champô.
As marcas das instituições de crédito ao consumo vendem a ideias de liberdade e realização pessoal. Outra grande ilusão! Primeiro porque o crédito não o deixará mais livre, bem pelo contrário e segundo porque a realização pessoal nunca advém da posse de um qualquer bem material já que o prazer que tiramos do mesmo se esbate ao longo do tempo.
As marcas criam valor, mas é um valor falso! Quais são as diferenças entre uns ténis de uma qualquer marca de prestígio e os mesmos ténis sem marca? Nenhumas! E no entanto o preço não deixa de ser astronomicamente diferente.
Por muito amigáveis que nos possam parecer as marcas têm apenas um objetivo: escravizar o consumidor. Não podemos esperar que surja uma instituição ou alguém que nos diga como devemos fazer, em que marcas podemos confiar e quais aquelas em que não. Tem que ser cada um de nós a desafiar os seus preconceitos e ver o mundo tal qual ele é!